Poesias 2 e 3
10/03/2010 10:42
2
Eu ali parada corria dentro de mim. Tava imóvel entre os trabalhadores anônimos. Eu contava as estações, contava os segundos, contava os meus pecados pra um desconhecido, já que é só isso que sei contar, pois sou péssima em matemática.
E eu queria ser o trem pra poder correr também e sair daquela atitude de inércia e simplesmente ir. Porque a vida é uma eterna espera pelo encontro... E as estações passavam di-va-gar e tão despretensiosamente que chegavam a me ofender, Central, Deodoro, primavera, verão... O tempo debochava da minha saudade e ria da minha dor. O tempo impiedoso transcorria lento tão despretensiosamente quanto o casal de namorados que passeia de mãos dadas num domingo ao pôr-do-sol. O trem parecia me odiar e se arrastava pelos trilhos. Talvez o trem não tenha um amor, talvez o trem tenha perdido as esperanças...
Porque quem ama tá sempre apressado, amor é um negócio meio desastrado, faz a gente correr, esbarrar em tudo, perder o juízo e a compostura.
Ali parada eu corria...
3
Mas, eu não.
Eu amava e porque amava tinha pressa e porque tinha pressa o universo de pirraça parecia conspirar pra que o tempo corresse lento. E os relógios parados e eu ali a parada e a mulher que não para de falar e o crente que não pára de pregar e o pagodeiro que não pára de batucar. O trem é um caos, mais caótico ainda é meu coração.
Desço,ando,viro a esquina
Penso,paro,respiro
Finjo que não vejo e me escondo
Olho,sorrio,enrubesço
Me rendo.
E fico paralisada como os segundos preguiçosos de outrora e percebo derrepente, que a eternidade cabe dentro de um abraço.
* Renata Melo - Acadêmica do curso de Jornalismo da UFRJ.
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