Florbela Espanca na Quarta Literária
29/10/2010 02:19
Promovida há onze anos pela Livraria e Editora Valer, a Quarta Literária de 2010 é especialmente dedicada às mulheres com o ciclo de palestras intitulado Palavra de Mulher, ministradas por mulheres que apresentam sempre na primeira quarta-feira de cada mês um grande nome feminino da literatura. O encontro do mês de novembro acontecerá no dia 3, às 18h30min, no Espaço Cultural da Livraria Valer (Av. Ramos Ferreira, 1195, Centro), quando a professora Ecila Mabelini ministrará a palestra “Florbela Espanca: Alma sonhadora”. A palestra terá como objetivo mostrar como os desdobramentos de sujeitos em Florbela dão a ver a poetisa e, de modo significativo, observar os efeitos de sentido em seus poemas a partir dos diálogos e dos mundos paralelos e particulares construídos por ela. SOBRE A PALESTRANTE Ecila Lira de Lima Mabelini é graduada em Letras pelo Centro Universitário Fundação Santo André (FSA), pós-graduada (Lato Sensu) em Língua e Literatura pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e membro integrante do Centro de Pesquisas Sociossemióticas (CPS/PUC-SP: COS). Atualmente é professora da Escola Superior de Tecnologia (UEA). FLORBELA ESPANCA (1894–1930) foi uma das maiores poetisas portuguesas que sem temor exprimiu as grandes contradições da sensibilidade feminina nas suas paixões. É tida como a grande figura feminina das primeiras décadas da literatura portuguesa do século XX. Foi educada pelo pai e pela madrasta, Mariana Espanca, em Vila Viçosa. Estudou no liceu de Évora, mas só depois do seu casamento (1913) com Alberto Moutinho concluiu, em 1917, a secção de Letras do Curso dos Liceus. Em Outubro desse mesmo ano matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que passou a frequentar. Na capital, contactou com outros poetas da época e com o grupo de mulheres escritoras que então procurava impor-se. Colaborou em jornais e revistas, entre os quais o Portugal Feminino. Em 1919, quando frequentava o terceiro ano de Direito, publicou a sua primeira obra poética, Livro de Mágoas. Em 1921, divorciou-se de Alberto Moutinho, de quem vivia separada havia alguns anos, e voltou a casar, no Porto, com o oficial de artilharia António Guimarães. Em 1923, publicou o Livro de Sóror Saudade. Em 1925, Florbela casou-se, pela terceira vez, com o médico Mário Laje, em Matosinhos. Os casamentos falhados, assim como as desilusões amorosas, em geral, e a morte do irmão, Apeles Espanca (a quem Florbela estava ligada por fortes laços afetivos), marcaram profundamente a sua vida e obra. Em Dezembro de 1930, agravados os problemas de saúde, sobretudo de ordem psicológica, Florbela morreu em Matosinhos, tendo sido apresentada como causa da morte, oficialmente, um edema pulmonar. Postumamente foram publicadas as obras Charneca em Flor (1930), Cartas de Florbela Espanca, por Guido Battelli (1930), Juvenília (1930), As Marcas do Destino (1931, contos), Cartas de Florbela Espanca, por Azinhal Botelho e José Emídio Amaro (1949) e Diário do Último Ano Seguido De Um Poema Sem Título, com prefácio de Natália Correia (1981). O livro de contos Dominó Preto ou Dominó Negro, várias vezes anunciado (1931, 1967), seria publicado em 1982. A poesia de Florbela caracteriza-se pela recorrência dos temas do sofrimento, da solidão, do desencanto, aliados a uma imensa ternura e a um desejo de felicidade e plenitude. A veemência passional da sua linguagem, marcadamente pessoal, centrada nas suas próprias frustrações e anseios, é de um sensualismo muitas vezes erótico. Simultaneamente, a paisagem da charneca alentejana está presente em muitas das suas imagens e poemas, transbordando a convulsão interior da poetisa para a natureza. Florbela não se ligou claramente a qualquer movimento literário. Está mais perto do neo-romantismo e de certos poetas de fim-de-século, portugueses e estrangeiros, que da revolução dos modernistas, a que foi alheia. Pelo carácter confessional, sentimental, da sua poesia, segue a linha de António Nobre, fato reconhecido pela poetisa. Por outro lado, a técnica do soneto, que a celebrizou, é, sobretudo, influência de Antero de Quental e, mais longinquamente, de Camões. Poetisa de excessos, cultivou exacerbadamente a paixão, com voz marcadamente feminina, como exemplifica o poema “Fanatismo”, um de seus textos mais expressivos: Fanatismo Evento: Quarta Literária Palestra: Florbela Espanca: Alma sonhadora Palestrante: Ecila Mabelini Promoção: Livraria e Editora Valer Data: 3 de novembro de 2010 Horário: 18h30 Local: Espaço Cultural Valer – Av. Ramos Ferreira, 1195 – Centro Entrada: Franca Contatos: Valer – 3635-1324 / Ecila Mabelini ecila.mabelini@gmail.com
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah ! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus : Princípio e Fim! ..."
do Livro de Soror Saudade (1923)
*Farias- Coordenador de eventos da Valer.
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