Acadêmica e Cultural

FERNANDO PESSOA – UM POETA PARA ETERNIDADE

13/02/2010 14:15

Para muitos, Fernando Pessoa é símbolo de criação no que diz respeito a sua vasta literatura. Mas o poeta de Orpheu, cuja genialidade é comparada a Camões, vai muito além do daquilo que conhecemos de suas obras. Podendo assim, ser visto, também, como representação, ou ainda, personificação de tudo que entendemos por ‘humano’, seja por seu desejo de glória, seja por sua capacidade de desdobramento.

É sabido de todos que apreciam a obra pessoana que o poeta escrevia para sua posteridade, modéstia sua ou não, tinha, de certa forma, a certeza de uma gloria póstuma, e não estava errado. Até seu único livro publicado em vida, o épico ‘Mensagem’ (1834), na época, não atingiu o patamar atualmente conquistado. ‘Mensagem’ concorreu a um concurso pelo prêmio ‘Antero de Quental’, perdendo o primeiro lugar para ‘Romaria’, de Vasco Reis, pseudônimo do padre Armando Reis Ventura. Quanto a isso, diz Pessoa a respeito da publicação de seu livro: “(...) Nem o fiz, devo dizer, com os olhos postos no prêmio possível do Secretariado, embora nisso não houvesse pecado intelectual de maior”. (PESSOA, Alguma Prosa; 1990).

Contudo, Pessoa não se resume a um livro apenas. Sua capacidade de deixar-se possuir por outros seres, que como eles são poetas, e de assim criar outros Eus, os heterônimos, tem sido tema de inúmeros estudos, debates e controvérsias. Os paradoxos apontados por seus heterônimos apresentam o reconhecimento da perda da identidade do ser humano, da fragmentação do Eu em um mundo que destruiu as certezas inquestionáveis dos seres humanos: a modernidade.

Ao assumir a sua diversidade, sua pluralidade e multiplicidade de elementos, quase sempre conflitantes, Pessoa procura unidade, a integridade da pessoa humana. Fica claro, portanto, que os heterônimos não são máscaras literárias, não se confundem com pseudônimos; não se criou personagens poetas, mas sim, obras de poetas, e, em função delas, as biografias de Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro, dentre tantos, os heterônimos mais conhecidos. Mesmo estando parte de sua obra ainda desconhecida, escreveu, além de ‘Mensagem’, Poemas completos de Alberto Caeiro, Odes de Ricardo Reis, Poesias de Álvaro de Campos, Poemas dramáticos, Poesias coligidas, Quadras ao gosto popular, Novas poesias inéditas. Em prosa, suas obras são: Páginas de doutrina e estética, A nova poesia portuguesa, Análise sentimental da vida portuguesa, O livro do desassossego, Apologia do paganismo e Páginas íntimas e de auto-interpretação.

Por ser um poeta que conseguiu, em suas obras, conjugar lucidez e vidência com paixão, sonho e além de tudo, de entregar-se aos mistérios da vida e do mundo, criando tudo isso de várias maneiras diferentes, podemos dizer que Fernando Pessoa expressa a essência do ser humano em busca de glória, no caso dele a eternidade de seus pensamentos, e em busca de auto – conhecimento, fragmentando-se, multiplicando-se, reinventando-se, convivendo em profundidade  com todas as grandes contradições do nosso tempo e recriando-as poeticamente em suas obras, fazendo-as assim, obras-primas da poesia do século XIX.

 

 *Giselle Brandão é acadêmica do curso de Letras Língua Portuguesa da UFAM e faz parte do Conselho Editorial da Revista Identidade

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