Acadêmica e Cultural

Um dia desses

06/06/2010 00:47

Um dia desses

Kenedi Azevedo

Não sei se alguém já parou para pensar nessa situação.

Um dia desses resolvi ir ao centro da cidade, não lembro o que fazer. O certo é que acordei cedo, fiquei uma hora esperando o ônibus no ponto. Era mais ou menos sete da manhã. Nesse horário as pessoas estão indo para o trabalho, outras às compras, os alunos à escola. O primeiro veio lotado. Deixei passar porque queria ir sentado. Mais uma hora e o próximo apontou na esquina, não estava tão cheio, por isso fiz sinal e o apanhei.

Sentei no final do coletivo e me pus a observar cada passageiro que entrava. Primeiramente subiu uma velhinha querendo pagar a passagem. O cobrador explicou-lhe que deveria entrar por outro lado, então ela disse. Meu filho é você que vai pagar a minha passagem? O dinheiro é meu e eu entro por onde me der na telha, além do mais, toda vez me deixam na parada a ver navios, esse bando de babaca que são os motoristas. O cobrador aceitou o dinheiro e a velhinha passou pela catraca.

Outras pessoas subiam para o ônibus. Deixei de lado a conversa da velha e comecei a contar os passageiros que adentravam aquele inferno. Pareceu coisa de gente que não tem o que fazer, mas não é não, senhor.

Observei que a maioria dos entravam no veículo era de pessoas que tinham idade, entre vinte a trinta anos; se fosse em um país da Europa, talvez a situação se invertesse, mas nenhum morador das cidades europeias perderia o tempo contando passageiros dos ônibus, no entanto, eu o fiz. A conclusão que tirei foi: o país que vivemos é e está amadurecendo. Até meados dos anos noventa ver-se-ia muitas crianças, adolescentes, e infelizmente, jovens carregando crianças, tanto na barriga, como no colo. Não se pode dizer o mesmo dos países desse continente que até no nome é velho.

Agora, um senhor subiu, parecia cansado, ficou olhando interrogativamente para o rapaz que se sentara logo a sua frente, o moço respondeu ao olhar dizendo. O que o senhor quer? Sentar? Não, o senhor sentou muito, agora é minha vez. E continuou. Com certeza deve ser um aposentado, como todo brasileiro será. O senhor não respondeu, ficou enfrente ao rapaz até que um senhor mais novo que ele levantou e o pediu que sentasse em seu lugar. E eu observando tudo e refletindo naquilo que o rapaz dissera.

Uma moça de uns vinte anos entrou no ônibus trajando uma blusa de uma escola para jovens e adultos. Falou para uma passageira que vinha em pé ao seu lado: mana, não sei se conseguirei dar conta dos meus estudos; tenho filho, marido e casa para cuidar. É muito cansativo! A mulher que não queria conversa perguntou. Por que não aproveitou para estudar quando estava nova? Ela ficou calada e não respondeu.

Na volta para casa, agora em outro ônibus, pensei em cada situação. Não sei, talvez o Brasil esteja amadurecendo em malandragem. Sei que os de espírito patriótico não concordarão. A eles faço a pergunta.  Você nunca sentou nas cadeiras destinadas aos idosos? Nunca estacionou na vaga de deficiente? Nunca furou a fila? Hein?

 

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